"Na vida, cometemos erros e excessos. Já dirigi carro a 150 km/h. Eu não bebo. Vocês já devem ter dirigido "mamados". Infelizmente, cometemos erros que acabam em fatalidade. Realmente, é padrão na construção civil."
"Ele foi contratado como ajudante, não como montador. Nem passou por um treinamento. Ele não tinha experiência para estar naquela altura. Nem o encarregado e nem o técnico de segurança estavam lá em cima para ver se tudo estava certinho."
"O Fábio trabalhava de segunda a sábado. Doze horas por dia. Mas tinha dia que eram 13 horas e meia. Ele ouviu dos seus superiores: se passasse a trabalhar todos os dias e fazendo horas extras, seu salário chegaria a R$ 3 mil. Não tinha como não aceitar."
Pode parecer incrível.
Mas as três declarações são sobre Fábio Hamilton da Cruz.
O operário de 23 anos que morreu, sábado no Itaquerão.
Quem disse que já dirigiu a 150 km por hora...
E acredita que as pessoas dirigem 'mamadas' foi Andrés Sanchez.
Falou para as câmeras do canal Bandsports.
O ex-presidente do Corinthians e responsável pelo Itaquerão.
Que considera os erros que acabam em fatalidade padrão na construção civil brasileira.
Ou seja, está clara a análise de Andrés.
O operário morreu por erro, por excesso seu.
Mas faz parte do 'padrão' da construção civil neste país.
Ou seja nem o Corinthians ou a Odebrechet têm qualquer responsabilidade.
Já para o também operário David Silva não é bem assim.
Fábio foi contratado como ajudante.
Não tinha o menor treinamento para colocar piso a 15 metros de altura.
Ainda mais sem o acompanhamento de chefes experientes para monitorá-lo.
Já Sara Batista Dias, meia-irmã de Fábio, coloca o dedo na ferida.
No atraso do estádio da abertura da Copa do Mundo.
Para tentar compensar o tempo perdido, turnos pesadíssimo de trabalho.
Com incentivo financeiro para que operários trabalhem todos os dias.
E com direito a horas extras impostas.
Foi necessária a intervenção da Superintendência Regional do Trabalho no estádio.
Ontem ela interditou a construção das arquibancadas provisórias.
De onde Fábio despencou para a morte.
Hoje foram construídas proteções para os operários que trabalham no alto.
A esperança é que, assim, as obras nas arquibancadas sejam liberadas.
Ou seja, se fosse apenas erro ou excesso de Fábio, nada aconteceria.
A situação é revoltante.
Mostra apenas como a vida dos mais humildes não é levada em consideração.
Qual o motivo de não haver essa proteção antes da morte de Fábio?
Isso ninguém reponderá.
Assim como se tentará esquecer a acusação da falta de treinamento.
Ou ofertas indecentes para que que um operário trabalhe todos os dias.
E fazendo horas extras.
Já são oito mortos nos estádios da Copa do Mundo.

A preocupação da cúpula da Fifa com novas mortes é evidente.
Assim como com o atraso nas obras.
Principalmente no Itaquerão.
Estádio que deveria ter sido entregue no ano passado.
O prazo passou para janeiro, março, abril.
Agora é maio.
Blatter e Valcke não podem fazer o que gostariam.
Levar a abertura para o Maracanã.
Seria simples.
O estádio já está pronto.
Só que os ingressos para o Itaquerão já foram vendidos.
Assim como pessoas já acertaram suas viagens, hospedagem em São Paulo.
A Fifa receberia com certeza milhares de processos.
Só por isso a abertura continua marcada para o Itaquerão.
A paciência com o Corinthians, com Andrés já terminou faz tempo.
A morte de Fábio foi a gota d'água.
Na arena da abertura do Mundial três trabalhadores morreram.
As tragédias são terríveis para a imagem da própria Fifa.

A entidade bilionária é muito cobrada na Europa.
Por não ter coordenado a construção das arenas brasileiras.
Sindicalistas criticam Blatter e Valcke insistentemente.
Acreditam que há um criminoso descaso com os operários neste país.
Mas o responsável pelo estádio nega.
Ninguém tem culpa.
Principalmente a Fifa, Odebrecht e Corinthians.
Acusa o padrão da 'construção civil no Brasil'.
Sanchez é candidato a deputado federal pelo PT.
Atendeu a um pedido do amigo de todas as horas, Lula.
O ex-presidente tem um sonho em relação a Andrés.
Quer um voo alto para o fundador da organizada Pavilhão Nove.
O cargo de deputado federal é só para ganhar experiência.
Ele o quer como prefeito de São Paulo.

Os conselheiros mais próximos a Andrés sabem desse desejo de Lula.
Mas enquanto isso não acontece, sua missão é outra.
Defender os envolvidos na construção do Itaquerão das mortes dos operários.
Falar em erros que viram fatalidade é muito fácil.
Mas quem colocou Fábio Hamilton da Cruz a oito, 15 metros de altura?
Quem não lhe deu o treinamento mínimo?
Quem não construiu proteção aos operários que trabalham no alto do estádio?
As respostas são fáceis demais.
Só não serão respondidas e os culpados punidos se as autoridades não quiserem.
Infelizmente elas não parecem dispostas.
É melhor creditar à essa tal de fatalidade.
E esquecer.
Virar as costas ao terceiro brasileiro enterrado por causa do Itaquerão.
O inquérito de Fábio Luís Pereira e Ronaldo Oliveira dos Santos está parado.
Eles morreram em 27 de novembro.
O prazo para que as investigações terminassem era 27 de dezembro de 2013.
Com a conclusão do motivo da fatal quebra do guindaste...
E queda de uma peça de 420 toneladas.
Mas o delegado do 65º DP, Luiz Antônio da Cruz, pediu adiamento.
Disse que precisava investigar, interrogar mais pessoas.
Até agora, não se chegou à conclusão definitiva.
O que parece ser o caminho da morte de Fábio Hamilton da Cruz.
Homem simples de 23 anos que vendia doces nos faróis das ruas paulistanas.
E que teve a ideia de trabalhar como operário no Itaquerão.
Ajudar a construir o estádio do time que amava.
Sonhava também em ganhar um ingresso para ver a abertura da Copa.
Perdeu a vida.
Não contava com o 'padrão da construção civil' no Brasil.
Neste triste país onde todos dirigem 'mamados'.
É bom os operários que seguem trabalhando no Itaquerão rezarem muito...
(Recebo ligações da assessoria da Odebrecht.
A empresa garante que não tem nada a ver com este acidente.
Se exime de responsabilidade.
Dá sua versão.
O governo estadual recebeu apoio para a ampliação do estádio.
E, de acordo com a Odebrecht, foi a Ambev quem tratou das arquibancadas removíveis.
Para sua construção, contratou a Fast Engenharia.
A ela coube o vínculo empregatício de Fábio Hamilton da Cruz.
A Odebrecht só está envolvida nas duas primeiras mortes no Itaquerão.
Na terceira, não...)http://esportes.r7.com

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